Certo dia uma pessoa perdeu a fé quando uma criança lhe perguntou: “Quem fez Deus?”, e percebeu subitamente que não tinha a resposta. Custa-me a crer nisso, porque me parece que alguém com suficiente inteligência teria que saber que a resposta é: “Ninguém”.
A principal prova da existência de Deus está no fato de que nada sucede a não ser que alguma coisa o cause. Os biscoitos não desaparecem da embalagem a não ser que os dedos de alguém os levem. Uma nogueira não brota no solo sem antes cair ali uma noz. Os filósofos enunciam este princípio dizendo que “cada efeito deve ter uma causa”.
Assim, se recuarmos até as origens da evolução do universo físico (um milhão de anos, ou um bilhão, ou o que os cientistas queiram), chegaremos por fim a um ponto em que precisaremos perguntar: “Ótimo, mas quem o pôs em movimento? Alguém teve que pôr as coisas a andar, ou não haveria universo. Do nada, nada vêm”. Os bebês vêm de seus pais e as flores vêm das sementes, mas tem que haver um ponto de partida. Há de haver alguém não feito por outro, há de haver alguém que tenha existido sempre, alguém que não teve começo. Há de haver alguém com poder e inteligência sem limites, cuja própria natureza seja existir.
Esse alguém existe e é exatamente aquele a quem chamamos Deus. Deus é aquele que existe por natureza própria. A única descrição exata que podemos dar de Deus é dizer que é “Aquele que é”. Por isso, a resposta ao menino perguntador seria simplesmente: “Ninguém fez Deus. Deus existiu sempre e sempre existirá. Ele não teve começo e não terá fim.” Homens e Anjos podem ser qualificados de eternos, já que nunca morrerão, mas tiveram princípio e estão sujeitos a mudanças. Só Deus é eterno em sentido absoluto; não só jamais morrerá, como também jamais houve um tempo em que não existisse. Ele será como sempre foi – sem mudança alguma.
Expressamos o conceito de Deus, como a origem de todo ser, acima e mais além de tudo o que existe, dizendo que Ele é o Ser Supremo. Daí resulta que não pode haver senão um Deus. Falar de dois (ou mais) Seres Supremos seria uma contradição. A própria palavra “supremo” significa “acima dos demais”. Se houvesse dois deuses igualmente poderosos, um ao lado do outro, nenhum deles seria supremo. “Imaginemos, por exemplo, que Deus tivesse pai”. Se isso fosse verdade, Deus não seria mais supremo e o seu pai também não seria supremo, pois teria também um pai e assim sucessivamente. Nenhum teria o infinito poder que o verdadeiro Deus deve ter por natureza. O “infinito” poder de um anularia o “infinito” poder do outro. Cada um seria limitado pelo outro.
Há um só Deus, que é Espírito. Para entendê-lo precisamos saber que os filósofos distinguem duas espécies de substâncias: as espirituais e as físicas. Substância física é a que é feita de partes. O ar que respiramos, por exemplo, é composto de nitrogênio e oxigênio. Estes, por sua vez, de moléculas, e as moléculas, de átomos, de nêutrons e prótons e elétrons. Cada pequeno fragmento do universo material é feito de substâncias físicas. As substâncias físicas trazem em si os elementos da sua própria destruição, já que suas partes podem separar-se por corrupção ou destruição.
Pelo contrário, uma substância espiritual não tem partes. Não tem nada que possa quebrar-se, corromper-se, separar-se ou dividir-se. Isto se expressa em filosofia dizendo que uma substância espiritual é uma substância simples. Esta é a razão pela qual as substâncias espirituais são imortais. A não ser por um ato direto de Deus, jamais deixarão de existir.
Conhecemos três espécies de substâncias espirituais. Em primeiro lugar, a do próprio Deus, que é Espírito infinitamente perfeito. Depois, a dos Anjos, e por último, a das almas humanas. Nos três casos há uma inteligência que não depende de nenhuma substância física para atuar.
Se “espírito” é uma palavra difícil de compreender, “infinito” ainda o é mais. “Infinito” significa “não finito” ou o que não tem fim, e por sua vez, “finito” quer dizer “limitado”. Uma coisa é limitada quando tem um limite ou capacidade que não pode ultrapassar. Tem limites a água do Oceano, a energia do átomo de hidrogênio, mas em Deus não há limites de nenhum gênero; Deus não está limitado em nenhum sentido. O Catecismo da Igreja Católica nos diz que Deus é “Um Espírito infinitamente perfeito”. Se quiséssemos expressar-nos com perfeita exatidão, não diríamos que “Deus é bom”, mas sim que “Deus é a bondade”. Deus, falando com propriedade, “não é sábio”; é a “sabedoria”. Nada existe nem nada acontece que não tenha origem no poder infinito de Deus.
Outra perfeição de Deus é que não há limites à sua presença; dizemos que Ele que é Onipresente, pois está sempre em toda parte. Se algum dia uma aeronave chegar a Marte ou a Vênus, o astronauta não estará só, ao alcançar o planeta; Deus estará ali. Deus é Onipotente, porque o seu poder é infinito, sua perfeição é Divina e pode fazer tudo. Deus é também infinitamente Sábio. Foi Ele quem fez tudo, de tal modo que, evidentemente, sabe qual é a melhor maneira de usar as coisas que fez, e qual é o melhor plano para as suas criaturas. E Deus é Misericórdia, porque perdoa sempre quando nos arrependemos. Há um limite para a minha paciência e para a daquele outro, mas não para a infinita misericórdia de Deus. Mas Ele é também infinitamente Justo – embora Ele nos queira no céu, a sua misericórdia não anulará a sua justiça.
Autor: Jaime Francisco de Moura
Fonte: “A Fé explicada” Leo J. Trese
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