Autor: Pe. Martinho de Cochem
Fontes: Explic. da Santa Missa, Capítulo III Ed. Mensageiro da da Fé, http://www.veritatis.com.br/
Querendo
falar dos sublimes e múltiplos mistérios da santa "Missa, devemos dizer
com o rei David: "Vinde e vede as obras do Senhor e os prodígios que
operou sobre a terra" (Sl. 45, 9).
Nosso divino Salvador fez
muitos e grandes milagres, quando vivia neste mundo; nenhum, porém,
parece tão admirável como a instituição da santa Missa, na última Ceia.
É
a Santa Missa o compêndio das maravilhas das obras de Deus, um milagre
que contém em si tantos mistérios, que São Boaventura, meditando-os,
prorrompeu nestas palavras: "A santa Missa tem tantas maravilhas quantas
são as gotas d'água no oceano, os grãozinhos de poeira no ar, as
estrelas no firmamento, e os Anjos no céu. Nela se operam,
quotidianamente, tantos mistérios que não sei se, em tempo algum, a mão
onipotente de Deus fez obra melhor e mais sublime" (Tom. 6. De
Sacramentis).
Palavras admiráveis! Será então verdade que a santa
Missa contém tantos mistérios que a língua humana jamais os pode
enumerar? O grande teólogo padre Sanchez confirma as palavras de São
Boaventura, e acrescenta: "Na santa Missa, recebemos tesouros tão
admiráveis, dons tão preciosos, bens tão essenciais para esta vida e uma
esperança tão firme para a outra, que nos é necessária, para crê-lo, a
virtude da fé. Assim como se pode tirar, sem diminuir, toda a água que
se quiser, do mar, ou dos grandes rios, da mesma forma, apesar da
abundância das graças que tirardes na santa Missa, não diminuireis nem
lhe esgotareis jamais os tesouros" (Thes. Missae, e. 1).
O
primeiro símbolo da santa Missa foi o sacrifício do justo Abel,
oferecendo, piedosamente, ao Altíssimo as primícias de seu rebanho.
Este
sacrifício agradou ao Senhor; pois que diz a Sagrada Escritura: "O
Senhor lançou os olhos sobre Abel e sobre a sua oferta" (Gen. 4, 4). O
sacrifício de Abel partia dum coração submisso e fiel, e era feito em
vista do futuro Salvador. O fogo desceu do céu, diz a Sagrada Escritura,
e consumiu o holocausto de Abel.
O sacrifício de Abel agradou
visivelmente ao Altíssimo; mais lhe agrada, porém o Sacrifício do novo
Testamento. Quando o sacerdote oferece, na santa Missa, o pão e o vinho,
e pronuncia as palavras da consagração, o fogo divino do Espírito Santo
consome o pão e o vinho, mudando-os no Corpo e no Sangue de Jesus
Cristo. Este holocausto, portanto, é infinitamente mais agradável ao
Senhor que o de Abel. O Pai celestial o acolhe com grande satisfação,
dizendo: "Este é meu Filho bem amado em que pus toda a minha
complacência".
São outras figuras do santo Sacrifício da Missa os
sacrifícios de Noé, de Abraão, de Isaac e de Jacó, narradas em vários
lugares da Sagrada Escritura.
Porém, o símbolo mais tocante da
Missa foi o sacrifício que Melquisedec ofereceu a Deus todo-poderoso, em
reconhecimento da vitória de Abraão.
Este sacrifício consistia
em pão e vinho, e era acompanhado de preces e de cerimônias
particulares. O próprio Melquisedec era uma figura de Jesus Cristo. Seu
nome significa: Rei da paz; pois, como Jesus Cristo, era, ao mesmo
tempo, rei e sacerdote.
No cânon da Missa, imediatamente depois
da consagração, faz-se menção dos sacrifícios antigos, quando o
sacerdote diz: "Oferecemos à vossa sublime Majestade o dom de uma vítima
+ pura, de uma vítima + santa, de uma vítima + sem mancha, o pão
sagrado + da vida eterna e o cálice da eterna + salvação. Outrora
aceitastes os sacrifícios dos tenros cordeiros que Vos ofereceu Abel; o
sacrifício que Abraão Vos fez de seu filho único, imolado sem perder a
vida. Enfim o sacrifício misterioso do pão e do vinho que Vos apresentou
Melquisedec". É o suficiente para indicar que esses sacrifícios foram
imagens do sacrifício da Missa.
Na santa Missa, são realizados
não somente todos os sacrifícios simbólicos, como também se representam
os principais mistérios da vida e da paixão do nosso divino Salvador.
David
o indica, quando diz: "O Senhor deixou uma lembrança de suas
maravilhas; mostrou-se misterioso e compassivo" (Sl. 110, 4). E para que
lhe compreendêssemos bem o pensamento, diz, em outra parte:
"Acercar-me-ei
de vosso altar, a fim de ouvir a voz de vossos louvores e narrar vossas
maravilhas". Neste sentido, Jesus Cristo disse também a seus apóstolos,
depois da instituição da Eucaristia: "Fazei isto em memória de mim. A
obra da redenção vai ser cumprida. Estou prestes a deixar-vos, porém
antes de tornar ao meu Pai celeste, instituo a santa Missa como
sacrifício único do novo Testamento e lego-vos o poder de efetuá-la a
meu exemplo, até que eu volte para julgar os vivos e os mortos. E, para
que minha lembrança permaneça viva, encerro neste sacrifício todos os
mistérios de minha paixão, que reproduzireis, sem cessar, aos olhos de
meus fiéis".
Primeiramente, renova-se na santa Missa o mistério
da Encarnação. Na hora da Encarnação, a Virgem obedientíssima ofereceu a
Deus o seu corpo e a sua alma a fim de que, segundo as palavras do
Arcanjo, o Espírito Santo operasse em suas castas e virginais entranhas a
concepção de Jesus Salvador.
De modo mui parecido, quando o
sacerdote apresenta e oferece a Deus o pão e o vinho, o Espírito Santo
muda-os no verdadeiro Corpo e Sangue de Jesus Cristo. O sacerdote, no
momento da transubstanciação, recebe o filho de Deus em suas mãos tão
realmente como a santíssima Virgem o recebeu no seu casto seio.
Analogamente,
em segundo lugar, vemos renovar-se, na Missa, o mistério da Natividade.
Como Jesus Cristo nasceu do corpo imaculado e inviolado da santíssima
Virgem, na Missa Ele nasce dos lábios do sacerdote. Apenas pronunciada a
última palavra da consagração, Jesus acha-se nos panos alvíssimos do
altar como outrora nas fachas do presépio. Como Maria Santíssima, em sua
indizível felicidade, adorava a seu filho Deus humanado, como o
apresentava aos pastores, assim o sacerdote adora Jesus e apresenta-o
aos fiéis na elevação da santa Missa. E aquele infante divino que os
três magos vieram adorar, que o velho Simeão tomou nos braços quando os
pais o ofereceram no templo, nos o temos diante dos olhos, em todas as
Missas a que assistimos.
E ainda há mais. Jesus nos anuncia, na
santa Missa, seu Evangelho pela boca do sacerdote, nos ensina a orar,
ora conosco e por nós; soam, na Missa, as palavras do perdão como no
Calvário: "Pai, perdoai-lhes". Não resta dúvida, cabem aqui as palavras
de Jesus: "Bem aventurados os que não viram, mas creram", pois, aos
olhos corporais permanece tudo isso escondido, mas não assim à nossa
alma esclarecida pela fé. Ela reconhece, como o apóstolo Tomé, a Jesus
debaixo das espécies do pão; inundada de santa alegria percebe a
realização da divina promessa: "Eis que estou convosco até a consumação
dos séculos".
Está conosco Jesus na santa Missa, está conosco
como nosso Salvador, nosso Mediador, nossa vítima. Daí se compreende
também uma diferença notável entre a hóstia sagrada da custódia e a da
Missa, se bem que, numa e noutra, Jesus Cristo esteja igualmente
presente. Na custódia ou na âmbula, permanece Jesus presente em nossos
altares, oferece-se às nossas adorações, dá-nos a bênção, serve-nos de
alimento, - na santa Missa, porém, é nossa vítima, nosso Mediador como
no Calvário.
Cristãos! Que meio fácil e eficacíssimo de, na santa
Missa, nutrirmos a fé, a esperança, o amor! Que ocasião de acendermos
nossa piedade, de estreitarmos a união sagrada com Jesus!
Pode haver graça ou favor necessário, que não nos seja possível obter pelo sacrifício da santa Missa?
Se
Jesus nos ensina a pedir, dizendo: "Pedi, e recebereis!" vale este
conselho, muito especial e particularmente, na hora da santa Missa.
Nos
capítulos seguintes haveremos de explicar, mais minuciosamente, tudo
isso. Mas, desde já, será permitido perguntar, se não causa perda
irreparável de benefícios preciosos, corporais e espirituais, aos
cristãos a cegueira de fazer tão pouco caso de tão rico tesouro? Possa a
leitura atenta disso e de quanto segue, esclarecer-nos e inspirar-nos
grande estima do santíssimo sacrifício da Missa.
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