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Hoje, durante o jantar familiar, ficamos conversando sobre o passado. Nesta conversa, meus pais falavam da infância e juventude deles, das dificuldades, sofrimentos, necessidades... Meu pai falou da sua infância, do tempo em que passou fome. Ele dizia que quando criança, no período em que a fome assolava sua casa, o café da manhã que minha avó preparava era um bolinho, meio frito, meio cozido, à base de farinha de trigo, água e sal ou açúcar. No dia em que uma pessoa levou um pé de alface, sua alegria foi tamanha, que ele comeu folha por folha, somente com sal.
Eles falaram também, dos dias em que a “mistura” de luxo que levavam na marmita era um ovo frito, uma (única) sardinha frita (na época em que este peixe era muito, muito barato), ou alguma verdura ou legume que plantavam. Eles nunca moraram no interior, na roça, sempre moraram na zona leste de São Paulo, mas, ainda assim, caminhavam por muito tempo, e muito cedo, para chegarem ao trabalho. Eles não podiam “desperdiçar” o dinheiro com transporte, pois este dinheiro seria melhor aproveitado para comprar alimentos. Me emocionei quando meu pai falou, com lágrimas nos olhos que, quando era menino, era encarregado de levar marmita para seus tios e irmãos mais velhos até onde eles trabalhavam, aguardava que eles comessem para voltar pra casa, e nesse retorno, abria cada uma das marmitas, rezando para que tivesse sobrado alguma coisa, melhor se fosse feijão, para ele poder comer algo que não fazia parte do seu cardápio com frequência.
Isso me fez pensar nas inúmeras vezes que eu (e tantos outros) me irritei por não ter para o jantar meu prato favorito, por só ter ovo frito, ou alguma coisa que tenha sobrado do dia anterior. Quantos de nós temos à nossa disposição restaurantes, baratos ou caros, para almoçarmos ou jantarmos, com amigos, colegas de trabalho ou com a família? Quantos de nós temos vergonha de levar marmita ao trabalho?
Quando vamos começar a enxergar o mundo à nossa volta e ver as inúmeras famílias que passam necessidades? Não precisamos ir à África para vermos pessoas passando fome ou frio. Basta irmos às áreas mais carentes do nosso bairro, encontraremos muitas pessoas que precisam ser ajudadas. Não precisa ser ajuda financeira, às vezes, uma palavra, um ombro amigo ajudam mais. Você acredita ou já acreditou em algum momento da sua vida em Papai Noel? Algumas crianças não acreditam porque nunca tiveram motivos para acreditar. Porque suas famílias não podem gastar com brinquedos o dinheiro do leite, do arroz, do feijão. Muitos grupos (da igreja ou não) fazem o “natal das crianças”, em que as pessoas “adotam” pelo menos uma criança no natal para doarem roupas e brinquedos. Mas e no restante do ano?
Vamos pensar um pouco mais no esforço que nossos pais, ou aqueles que representam para nós essa figura familiar, têm para “fazer as nossas vontades”. Ter o celular da moda, uma roupa de marca, ir pra balada, etc. não custa pouco. Você já calculou seus gastos mensais com coisas supérfluas? Pense bem sobre isso antes de, na próxima vez, “exigir” algo novo, só porque seu melhor amigo ganhou!!!